Os investimentos pesados realizados pelos clubes da Arábia Saudita desde a contratação do atacante português Cristiano Ronaldo abriram os olhos do mundo para a Saudi Pro League. A temporada 2023/24 foi a primeira recheada de grandes estrelas espalhadas pelos 16 clubes do país. Antes de aprofundarmos mais a discussão, é necessário entender o que aconteceu para esse dinheiro ser injetado de maneira desenfreada nos clubes. Essa gastança toda faz parte de um plano chamado Saudi Vision 2030, que busca fomentar o desenvolvimento do país como um todo, não apenas no esporte.
Dentre os pilares desse plano, está diminuir a dependência financeira que o petróleo ocasiona na Arábia Saudita, reduzir também a dependência dos cidadãos dos recursos públicos, podendo assim, o Governo Saudita abrir mão de muitos subsídios que hoje são pagos à população, aumentar a qualidade e, consequentemente, a expectativa de vida de seus cidadãos, além de se tornar o centro e "porta de entrada" para o Mundo Árabe, que tem países como Catar, Emirados Árabes e Kuwait com projetos semelhantes de evolução em andamento.
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Chegada de Cristiano Ronaldo ao Al Nassr foi primordial para o sucesso do projeto. Foto: Divulgação/Al Nassr. |
E o mega investimento no futebol ainda tem mais dois objetivos: colocar a Liga Saudita entre as 10 melhores do mundo até 2030 e tentar chegar para o mundo com uma imagem menos negativa que a do Catar na Copa do Mundo de 2022. Supostas irregularidades na obtenção da oportunidade de sediar o Mundial e na construção das estruturas, duras críticas da imprensa por todo o mundo às políticas locais e até aos jogadores naturalizados da seleção catari foram frequentes antes e durante a competição (e até depois dela).
E como funciona a distribuição desse aparato financeiro? Foi criado um Fundo Soberano de Investimentos, controlado pelo governo, mais precisamente pelo príncipe herdeiro e atual primeiro-ministro do país, Mohammed bin Salman, que assumiu a gestão de quatro clubes: Al Hilal, Al Nassr, Al Ittihad e Al Ahli, os quais fizeram as contratações mais pesadas. Os donos dos demais clubes têm benefícios fiscais, visando compensar a injeção descomunal de dinheiro nos quatro grandes.
Como esse plano envolve inúmeros outros investimentos, há a crença de que o país não vai sofrer de medidas semelhantes às que ocorreram no futebol chinês, que teve na interferência estatal o seu declínio, com sanções, impostos e cortes no futebol. Inclusive, as especulações e contratações de 2024/25 já estão a todo vapor no mercado da bola.
Após a chegada de Cristiano Ronaldo, que foi o ponto de partida para a operação de fortalecimento da liga, uma enxurrada de contratações começou a desembarcar na Arábia Saudita, principalmente por intermédio dos quatro grandes, que agora contavam com um dinheiro extra e autorização para pagar salários astronômicos. Além de tirar CR7 do Manchester United, o Al Nassr trouxe o meia Otávio (Porto), o atacante Mané (Bayern de Munique), os meio-campistas Fofana (Lens) e Brozovic (Inter de Milão), o zagueiro Laporte (Manchester City) e o lateral-esquerdo Alex Telles (Manchester United), todos comandados pelo português Luís Castro, que veio do Botafogo.
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A primeira temporada de Benzema passou longe de ser o sucesso que todos esperavam. Foto: Getty Images.
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Os rivais não ficaram para trás. O Al Ahli apostou na juventude do alemão Matthias Jaissle (Red Bull Salzburg) para treinar o elenco que recebeu os atacantes Roberto Firmino (Liverpool) e Saint-Maximin (Newcastle), os meias Kessié (Barcelona), Gabri Veiga (Celta de Vigo) e Mahrez (Manchester City), os zagueiros Ibañez (Roma) e Demiral (Atalanta), além do goleiro Mendy (Chelsea). O Al Ittihad tinha no português Nuno Espírito Santo (Tottenham) e depois no argentino Marcelo Gallardo, a esperança de fazer os atacantes Benzema (Real Madrid) e Jota (Celtic), os meio-campistas Fabinho (Liverpool) e Kanté (Chelsea) e o zagueiro Luiz Felipe (Lazio) se encaixarem no elenco que detinha o título de atual campeão saudita.
Mas quem acabou despontando foi o Al Hilal, que trouxe o português Jorge Jesus (Fenerbahçe) para comandar uma equipe que bateu recordes e entrou para a história. Se a grande estrela da companhia, o atacante Neymar (Paris Saint-Germain), não conseguiu atuar tantas vezes, os atacantes Mitrovic (Fulham) e Malcom (Zenit), os meias Milinkovic-Savic (Lazio) e Rúben Neves (Wolverhampton), o lateral-esquerdo Renan Lodi (Marseille), o zagueiro Koulibaly (Chelsea) e o goleiro Bono (Sevilla) deram conta do recado.
E as contratações não pararam por aí. Mais nomes de peso e conhecidos chegaram à Arábia Saudita fora dos quatro grandes. O Al-Ettifaq, comandado pela lenda do Liverpool Steven Gerrard, trouxe outro ídolo dos Reds, o meia Jordan Henderson, além do meia Wijnaldum (Paris Saint-Germain) e do atacante Demarai Gray (Everton). O Al Shabab atacou o mercado espanhol: vieram de lá o atacante belga Carrasco (Atlético de Madrid) e o ídolo croata Rakitic (Sevilla). O Al-Riyadh tirou Juanmi do Bétis, o Abha convenceu o centroavante Toko-Ekambi a deixar o Lyon e atacando o mercado interno, o Al Wehda tirou Ighalo do Al Hilal.